Brasil enfrenta percalços ao abrir Copa das Confederações

  • Rogério Wassermann
  • Enviado Especial da BBC Brasil a Brasília
Estádio Mané Garrincha | Foto: Getty
Legenda da foto, Brasil e Japão se enfrentaram no estádio Mané Garrincha, em Brasília

Dentro de campo, dois gols rápidos no início do primeiro e do segundo tempo e um terceiro no último minuto de jogo serviram para que o Brasil cumprisse o primeiro dos objetivos da estreia da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, em Brasília: vencer o Japão.

Do lado de fora, um grande protesto de grupos que questionam os gastos públicos com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil manchou o segundo objetivo da abertura do torneio: mostrar a capacidade do país de sediar um evento esportivo de grande magnitude sem contratempos.

O protesto, que reuniu centenas de pessoas nos acessos ao estádio, foi reprimido pela tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de bala de borracha, e alguns manifestantes foram presos. Turistas também foram afetados em meio à confusão.

Após furar um bloqueio policial, a manifestação conseguiu impedir o acesso de torcedores a alguns portões do Mané Garrincha. Após intervenção da polícia, manifestantes se dispersaram.

Do lado de dentro do estádio também houve alguns problemas, como a falta de comida e bebida e grandes filas nos pontos de venda e falhas no sistema de telefonia 3G e internet wireless.

Houve elogios, no entanto, à qualidade das instalações, como banheiros limpos e boa visão do campo de todos os assentos, mesmo nos pontos mais altos.

Vaias e aplausos

O jogo serviu também para recuperar em parte o apoio da torcida brasileira à seleção, que vinha acumulando resultados decepcionantes nos jogos disputados neste ano – dos sete jogos sob o comando do técnico Felipão até a estreia da Copa das Confederações, o Brasil havia perdido um, empatado quatro e vencido apenas dois.

Neymar | Foto: Getty
Legenda da foto, Neymar comemora após abrir o placar; primeiro gol da partida chegou aos três minutos do primeiro tempo

A torcida apoiou o time com aplausos na maior parte do jogo, atendendo ao desejo de Felipão, que na véspera havia declarado que o Brasil precisava tirar proveito de jogar em casa durante a competição. O técnico fez sua parte, já que havia admitido que para receber o apoio da torcida, a equipe precisava melhorar.

O time conseguiu de alguma maneira se reconciliar com a torcida brasileira, mas os organizadores não tiveram a mesma sorte.

Antes do jogo, o público presente no estádio Mané Garrincha reservou uma vaia estrondosa à presidente Dilma Rousseff e ao presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, que discursaram para anunciar a abertura oficial da competição.

Ao lado dos dois na tribuna de honra, estava o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin.

Após um rápido discurso em português, Blatter pediu, em espanhol, que os torcedores tivessem "respeito e fair-play".

Assédio aos japoneses

Antes do jogo, do lado de fora do estádio, os poucos torcedores japoneses eram alvo do assédio constante de brasileiros em busca de registros fotográficos com os "adversários".

Um dos mais requisitados para fotos com os brasileiros era o advogado Kazuo Maegawa, de 42 anos, que viajou especialmente de Osaka, no Japão, para acompanhar a Copa das Confederações. Esta é sua primeira visita ao Brasil, mas ele diz já se preparar para uma nova viagem na Copa do Mundo do ano que vem.

Dilma e Blatter | Foto: Getty
Legenda da foto, Presidente Dilma Rousseff foi vaiada quatro vezes; ela discursou após chefe da Fifa, Joseph Blatter
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"Estou me sentindo bastante confortável, os brasileiros parecem bem amistosos", disse ele. Apesar de não falar português e apenas arranhar o inglês, ele disse ter feito vários amigos na entrada para a partida.

Maegawa, que se diz torcedor fanático do time japonês Gamba Osaka há 20 anos, conta que já assistiu a quatro Copas do Mundo – de 1998, na França, de 2002, no próprio Japão e na Coreia do Sul, de 2006, na Alemanha, e de 2010, na África do Sul – e que não viu grandes diferenças em relação à organização do jogo deste sábado em relação às competições que acompanhou.

O publicitário Hiroki Takahashi, de 41 anos, que veio de Tóquio para assistir ao torneio, também se disse bem impressionado com a organização brasileira e afirmou ter planos para assistir à Copa em 2014.

Em sua terceira viagem ao Brasil, ele disse ter achado o país mais seguro do que esperava. "Ouvimos muitas histórias, achei que seria mais violento. Mas me senti bastante seguro andando por aí", disse.

Torcedores japoneses | Foto: Reuters
Legenda da foto, Torcedores japoneses foram "assediados" pelos brasileiros e elogiaram organização do jogo

Takahashi diz que a recepção amistosa dos brasileiros ajuda. "Os brasileiros parecem gostar bastante dos japoneses, então nos sentimos em casa", disse.

Para Eiko Yamaguchi, de 30 anos, que trabalha como assistente no consulado japonês em São Paulo, o fato de falar português a ajudou a se orientar pela cidade e encontrar o caminho para o estádio.

Para ela, a organização para o primeiro jogo da Copa das Confederações estava razoável, mas "precisa melhorar um pouco para a Copa do Mundo no ano que vem". "As informações não eram das melhores, ficamos bastante tempo em uma fila para depois ficar sabendo que estávamos no lugar errado e que podíamos entrar por outro lugar onde não havia fila nenhuma", reclamou.