Vozes dos protestos brasileiros pelo mundo

Atualizado em  20 de junho, 2013 - 04:49 (Brasília) 07:49 GMT

Vozes dos protestos brasileiros pelo mundo

  • São Paulo - Thalita Marangon, 25 anos, atriz

    Há algum tempo, eu venho pensando muito sobre meu papel na sociedade, principalmente nas últimas três semanas. Quando as manifestações começaram, esse sentimento explodiu.

    Para vir para cá, tive de driblar meu horário no trabalho e minha mãe.

    Trabalho em um hotel e venho às manifestações depois do expediente ou no meu dia de folga na semana. Foi difícil convencer a minha mãe a me deixar participar. Mas nós conversamos muito e eu explique o que me motiva a participar.

  • São Paulo - Mayara Vivian, de 23 anos, aluna de geografia da USP e uma das líderes do MPL (Movimento Passe Livre)

    Não acredito na via partidária e acho que a política estudantil tradicional está desgastada por isso entrei no MPL. Isso já faz cinco anos.

    Achei um absurdo termos que negociar com o secretário de segurança pública (e não com a Secretaria de Transportes).

    O povo tem direito à cidadania e à tarifa zero.

  • São Paulo - José de Freitas, 85 anos, aposentado

    Eu era professor de psicologia na PUC durante o regime militar. Quem enfrentou metralhadoras com balas de aço contra a ditadura, não vai enfrentar balas de borracha da PM?

    Não protesto apenas pela tarifa do transporte, que não me afeta diretamente, mas por um Brasil melhor e contra os gastos públicos relacionados à Copa do Mundo de 2014.

    O mundo inteiro está nos apoiando em nossa luta.

  • Rosalba Nunes, ao lado da filha

    Brasília - Rosalba Nunes, 65 anos, aposentada

    Fui protestar porque quero deixar um mundo melhor para meus netos. Todo mundo pode participar, mas o pessoal da minha idade é muito acomodado, só quer ficar em casa.

    Fiquei feliz de ter ido. Estava com uma bandeira do Brasil no ombro. Me chamavam de “vovozinha da revolução”.

    Foi bonito ver o pessoal andando, em harmonia. Mas quando começaram a subir no Congresso, preferir ir embora, porque se acontecesse algo, não conseguiria correr. Mas foi tudo tranquilo.

    Sempre luto pelo que acredito, seja na hora de reclamar no INSS sobre a minha aposentadoria ou para sair para as ruas. Já participei da marcha contra a corrupção, do panelaço contra o Collor... Eu estou bem otimista, acho que vai mudar algo, sim, porque o povo simplesmente não está aguentando mais.

  • Brasília - João Paulo Apolinário, 21 anos, estudante de ciência da computação

    Entrei no laguinho, no espelho d'água, subi a rampa do Congresso, na segunda-feira. Foi histórico.

    Também fui na manifestação de sábado, ao lado do estádio, antes do jogo do Brasil. A gente estava protestando ao lado da fila de torcedores. Havia provocações, mas estava tudo tranquilo. Até que os policiais ficaram mais agressivos. Sentamos no chão, achando que assim eles não avançariam.

    Mas eles vieram para cima com a a cavalaria. Soltaram bombas de gás, que acabaram acertando até os torcedores. Nunca tinha visto esse nível de repressão, foi desproporcional.

    A participação de todos nos protestos é importante, fortalece o movimento e mostra que o povo não se sente representado por essa classe de políticos.

  • Nova York - Priscila Néri, 33 anos, diretora de programa da ONG Witness

    Participei do protesto que ocorreu domingo, durante o show da Preta Gil no Central Park. Cheguei com meu filho e, logo na entrada, os guardas me proibiram de passar com os cartazes. Me disseram que era determinação da produção do show, que havia temores de protestos.

    Bati boca, tentei argumentar, mas não teve jeito. Tivemos de deixar os cartazes do lado de fora. Mas houve uma manifestação no começo do show mesmo assim.

    O que vejo aqui é uma mistura de gente se mobilizando - brasileiros que já protestaram em outras ocasiões e outras que nunca haviam participado de manifestações.

  • Nova York - Julia Schiefer (blusa branca), 27 anos, estudante de Business

    Depois dos protestos da semana passada em São Paulo, muita gente aqui decidiu sair às ruas, gente que nem sabia direito o que estava acontecendo até então. Assim, na segunda-feira, fizemos um protesto na Union Square, que é uma praça conhecida por abrigar manifestações e está sempre cheia de estudantes.

    Foram uns 300 brasileiros. Foi muito bacana porque muita gente perguntar o que estava acontecendo. Porque eles viam que era brasileiro e logo achavam que era Carnaval. Daí, explicávamos o porquê dos protestos.

    Eu participo porque saí do Brasil para escapar de algumas frustrações. Então, quando algo assim acontece, temos que participar, dar força. E vamos continuar. No domingo, a manifestação vai ser ainda maior - e na frente da sede da ONU.

  • São Francisco (EUA) - Luciana Meinking Guimaraes, 34 anos, tradutora

    Fui ao protesto movida por um forte sentimento de indignação contra a violência da polícia em protestos em todo o Brasil, contra a classe política brasileira, sem exceção de partido, contra a mídia e, principalmente, contra a corrupção que se tornou endêmica.

    É com muita dor que vejo os políticos e a mídia quererem manipular o movimento para dividir o país em conflitos partidários, religiosos, etc.

    Acho que este é um momento histórico. Espero que as pessoas consigam ultrapassar as divisões partidárias e de crenças religiosas para lutarem por um bem comum que é a luta contra a corrupção e a impunidade.

    Como resultado, espero uma completa reforma política brasileira, com redução do salário dos políticos em paridade com o funcionalismo público nacional para que só ficassem no cargo aqueles que realmente se importassem com a população e o país.

  • Hamburgo (Alemanha)

    - Sueli de Roure, 65 anos, professora de história aposentada de Brasília, estava visitando o neto

    "Nós vivemos em uma democracia, onde as pessoas tem o direito de se manifestar!"

    - Paulo Rocha, músico carioca

    "Acho muito importante que os brasileiros no exterior se mobilizem. Porque assim podemos mostrar para a imprensa europeia o que está ocorrendo no nosso país. Temos que apoiar as manifestações no Brasil."

    - Dalila Leal dos Santos, 26 anos, bailarina profissional de São Paulo

    "Eu estou aqui por um Brasil melhor! Esse é um momento histórico. Os direitos pelos quais os ativistas lutam são também os direitos dos policiais. Essa truculência é revoltante."

  • Londres, Inglaterra

    - Bruna Rocha, 31 anos, arqueóloga

    "Vim com esse cartaz para condenar esse genocídio indígena porque as violações sistemáticas contra os direitos indígenas estão aumentando muito. O discurso das altas instituições em relação aos indígenas é semelhante ao do regime militar. Muitos se uniram após a brutalidade policial contra manifestantes. Eu espero que eles se unam também em relação aos indígenas que sofrem brutalidade sistemática."

    - Cristina Rodrigues, 34, anos, acompanhada de seu filho Nicolas, de 5 anos

    "Nos protestos do Brasil, eu não iria. Não me sentiria segura. Aqui é diferente. Não existe esse problema."

    - Nara Improta, 34 anos, estudante de doutorado

    "Eu trouxe esse cartaz porque essa também é uma causa muito importante, é preciso chamar atenção para ela. Há uma fartura de reivindicações que não enfraquece o movimento. Pelo contrário. É justamente o que faz ter mais força. Transporte público é algo importante e que diz respeito a todos. Agora, o movimento virou um projeto multifocal."

  • Rio de Janeiro - Fausto Marques Pinheiro Jr., 26, bacharel em direito

    Depois de participar do protesto na segunda-feira, virei a noite na delegacia (5ª DP), ajudando as pessoal que foi preso durante as manifestações.

    A gente verifica a ação da polícia, acompanha os

    depoimentos, tenta pegar relaxamento de fiança

    Na segunda-feira, fiquei perto da Alerj, mas não no meio do protesto. Como a gente dá apoio ao pessoal, é melhor não ser preso, não é? O que mais me assustou foi a polícia dando tiro com munição de verdade - e não era para cima, não. Isso eu nunca tinha visto. Mas estou muito otimista,.

    Aqui no Rio, os vereadores ficaram com medo. Isso é bom. Em uma democracia que funciona, o governante tem medo do povo, e não o contrário.

  • Rio de Janeiro - Thais Farias, 30 anos, jornalista

    Há uns 15 anos, eu participei de uma manifestação contra a venda da Vale, mas eu era nova, era mais pelo “oba oba”. Então, posso dizer que a manifestação de domingo foi a primeira da qual participei. É um momento muito importante, precisamos participar. Uso transporte público todos os dias aqui no Rio e demoro uma hora e meio em um trajeto de 20 minutos. Então, sabemos que o estado dos transportes é só o estopim.

    Queria ter ido na manifestação de segunda-feira, mas não pude por causa do meu filho, que é pequeno. E como tem muitos pais e mães nessa situação, organizamos um protesto com crianças no domingo, no Paço Imperial. Vamos fazer brincadeiras com as crianças, ver o que elas não gostam da cidade, que mudanças elas gostariam de ver. Acho esse movimento de conscientização muito importante.

  • Barcelona - Maíra Petrella, 30 anos, atriz

    Acredito na força dos movimentos sociais no exterior. Apoio outros países contra as tiranias de seus governos. Precisamos ser solidários e fazer com que essas causas tenham repercussão mundial.

    Apoio a continuidade da luta. Nós, brasileiros no exterior, somos os verdadeiros embaixadores do nosso país. Queremos encorajar as pessoas, para que se unam e se informem. Saí do Brasil há oito anos, desconfiava da manipulação estrangeira sobre nosso país e isso me incomodava muito. Nossa cultura é estereotipada e me senti responsável por mostrar ao mundo a nossa realidade.

  • Barcelona - Ernani Carvalho, recifense de 40 anos, professor universitário

    Eu e minha família viemos protestar porque os brasileiros estão fartos dos serviços públicos. Estamos cansados de pagar uma das cargas tributárias mais altas do mundo.

    Sempre participei de protestos, especialmente quando era mais jovem. Mas repudio qualquer tipo de violência, temos de manter a civilidade.

    Estamos aqui há 10 meses e já participei de outras passeatas, como uma para defender os direitos dos professores da Catalunha, uma categoria que sofreu recortes salariais nos últimos meses. O que sinto agora é que nós, brasileiros, também já temos apoio da sociedade catalã.

Os brasileiros que protestam

As manifestações que se espalharam pelas ruas do Brasil nos últimos dias ganharam corpo na semana passada, quando uma marcha contra o aumento das tarifas de transporte público em São Paulo foi reprimida com violência pela polícia.

A partir de então, uma onda de protestos com centenas de milhares de pessoas tomou conta das ruas de cidades brasileiras por todas as regiões do país. Na noite de terça-feira, novas manifestações foram realizadas em pelo menos 12 Estados.

Os protestos das últimas semanas são apontados como os maiores desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992.

Como resultado da pressão das ruas, as autoridades de São Paulo e Rio anunciaram na noite de quarta-feira a revogação dos reajustes nos preços do transporte coletivo.

Mas as manifestações passaram a incluir uma série de outras demandas, incluindo mudanças na situação da educação, da segurança, da saúde e do combate à corrupção e aos gastos públicos com a organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

Os protestos brasileiros não se resumiram ao país. Manifestações semelhantes ocorreram em mais de 50 cidades no exterior, e novos atos foram marcados para os próximos dias.

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