Vídeo sobre sair do armário para os pais na China é visto por mais de 100 milhões

  • Gemma Newby e India Rakusen
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Credito: Ah Qiang/PFLAG

Crédito, Ah Qiang.PFLAG

Legenda da foto, "Mãe, tenho algo para te dizer", diz filho gay em vídeo que já foi visto mais de 100 milhões de vezes

Um vídeo sobre a pressão sentida por filhos gays - que ainda não saíram do armário - em reuniões familiares de Ano Novo para que comecem a namorar se tornou viral na China.

O Ano Novo Chinês, comemorado no último dia 19, é o momento em que milhões de famílias chinesas se reúnem para comer, celebrar e soltar fogos de artifício.

Mas para muitos filhos, também é o momento de enfrentar uma enxurrada de perguntas de pais querendo saber quando eles irão começar a namorar - uma situação enfrentada também por muitos brasileiros em grandes encontros familiares em feriados.

Nesse Ano Novo, entretanto, um tópico pouco comum acabou se destacando no país: homossexualidade. O motivo foi um vídeo chamado Coming Home ("Vindo para casa", numa tradução livre).

O curta começa apresentando o estudante Fang Chao e como, no jantar de Ano Novo de 2009, ele é pressionado pelos pais para encontrar uma namorada. Quando ele começa a namorar um homem e revela, por telefone, que é gay, sua mãe e seu pai param de falar com ele.

Crédito: Ah Qiang/PFLAG

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Legenda da foto, "Você sempre será nosso filho", diz mãe ao final do vídeo, encerrando rejeição de anos a filho gay

Anos depois, já em 2015, a mãe do jovem decide telefonar para ele: "Filho, volte para nós. Não importa quem você é, você sempre será nosso filho. Venha para casa".

O vídeo já teve mais de 100 milhões de visualizações no QQ, uma das maiores plataformas de mídia social na China.

No final do filme, há clipes reais de mães de homens gays que dão conselhos e deixam mensagens como: "Conte a história de sua vida para seus pais - eles estão dispostos a ouvi-lo", e "Não permita que convenções sociais e visões tradicionais sobre o casamento impeçam seu filho de voltar para casa."

As reações à homossexualidade na China são variadas e os comentários do vídeo refletem isso. Alguns são favoráveis, outros menos. "Alguns dizem que gays e lésbicas são algo OK e normal. Mas o que você vai pensar se isso acontecer com seus filhos e filhas?," comentou uma internauta.

Credito: Ah Qiang/PFLAG

Crédito, Ah qiang. PFLAG

Legenda da foto, Ano Novo Chinês é o feriado em que filhos voltam para casa para encontrar pais na China

"Eles estão com medo de socializar com as mulheres? Será que eles podem diferenciar relações fraternas de amor?", disse outro.

Um dos responsáveis pelo vídeo é Ah Qiang, da filial em Guangzhouda da organização sem fins lucrativos PFLAG. A organização, que tem origem nos EUA, luta pela inclusão social de pessoas com base em sua orientação sexual, identidade e expressão de gênero.

Ele contou à BBC como "saiu do armário".

"Minha mãe morreu em 2006 e eu nunca tive a chance de dizer a ela. [Fico] muito triste com isso", diz ele. Dois anos depois, ele decidiu contar a seu pai e sua madrasta que ele era gay. Ele os convidou os dois a sua casa, explicou por que não tinha namorada e por que não voltou para casa para o Ano Novo. "No final eu disse: 'Vocês têm alguma pergunta para mim?' [Meu pai] tinha apenas uma. "Quem vai cuidar de você quando você estiver velho?"

Ah Qiang/PFLAG

Crédito, Ah Qiang.PFLAG

Legenda da foto, "Crianças, venham para casa para o feriado", diz mãe de homossexual em clipe real no vídeo

"Eu disse, 'eu vou ter amigos e eu estou economizando para minha velhice".

Apesar da política de censura à internet da China, Ah Qiang diz que a mídia social tem dado às pessoas do país uma saída para discutir questões em torno da homossexualidade.

Ele disse à BBC que o QQ, o site de mídia social chinesa em que foi publicado o vídeo, inicialmente disse que não poderia colocá-lo na primeira página por causa de sua mensagem pró-gay.

Alguns dias depois, o vídeo se tornou tão popular que entrou na homepage do site.