Artista holandês acusa Fiesp de plagiar pato amarelo

  • Ricardo Senra
  • Enviado especial da BBC Brasil a Brasília
Pato desenvolvido por artista holandês, que acusa a Fiesp de plagiá-lo

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Legenda da foto, Pato desenvolvido por artista holandês, que acusa a Fiesp de plagiá-lo

O artista plástico holandês Florentijn Hofman acusa a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de plagiar, em sua campanha contra aumento de impostos chamada "Não vou pagar o pato", a obra Rubber Duck (ou pato de borracha), exposta em São Paulo, em 2008, e em cidades como Amsterdã e Hong Kong.

A BBC Brasil entrou em contato com a fábrica de Guarulhos (SP) que produziu a obra para o artista holandês em 2008 e descobriu que se trata da mesma que tem produzido os patos em contrato com a Fiesp.

Denilson Sousa, dono da Big Format Infláveis, reconheceu que empresa produziu os dois patos e disse que a Fiesp enviou uma foto da obra do artista como "referência", mas que "nem sabe mais se tem o projeto de Hofman".

À BBC Brasil, a equipe de Hofman afirmou que a Fiesp transformou o projeto artístico original em uma "paródia política" e que o uso do desenho é "ilegal" e "infringe direitos autorais".

Pato é testado na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo

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Legenda da foto, Pato é testado na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo

Procurada pela reportagem, a Fiesp negou as acusações de plágio e afirmou que a inspiração para os patos foram "patinhos de banheira", sem confirmar se enviou ou não o projeto holandês como referência.

"O que foi dito (pela fábrica) para a gente é que este é um projeto novo", diz a área de comunicação da Federação. "Nós não nos inspiramos no artista. Nos inspiramos nos patinhos de banheira, que estão em todo lugar. Este projeto é da campanha 'Não vou pagar o pato'."

A Fiesp alega ainda que o pato da campanha difere da obra do artista "nos olhos, no pescoço e na base" e que a "patinhos amarelos como o da campanha estão em qualquer lugar".

Desenho e especificações

Segundo o dono da fábrica, o novo projeto foi "inteiramente desenvolvido" pela Big Format. "Eu não colocaria nossa reputação em jogo", diz Sousa. "Temos experiência e este é um projeto muito simples. Por que não perderíamos quatro horas para fazê-lo?", pergunta.

A equipe do artista contra-argumenta: "A resposta da Fiesp é com certeza uma cortina de fumaça. É exatamente o nosso desenho e nossas especificações técnicas. Alterar os olhos não muda a nossa concepção técnica de formato do corpo e bico", procede a equipe do artista.

Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao lado de pato durante protesto em Brasília

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Legenda da foto, Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao lado de pato durante protesto em Brasília

Em reportagem publicada no site da federação, Paulo Skaf (PMDB-SP), presidente da Fiesp, diz que “este pato representa a indignação das pessoas”.

"O povo brasileiro é um povo do bem. O pato, com este olhar de paz, é a forma brasileira de protestar”, prossegue.

Na última terça-feira, coincidindo com a saída do PMDB do governo, a Fiesp instalou 5 mil "minipatos infláveis" na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em frente ao Congresso Nacional.

O protesto critica a carga tributária do país, acusa o governo de má gestão e corrupção e pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Vetor

O artista holandês criticou o uso político do pato. "Se você estudar e entender esta obra, verá que é feita para ser um projeto não político. É isso que enfatizamos e esperamos que você perceba que eles mataram o espírito da obra."

A BBC Brasil apurou que o projeto da obra foi enviado pelo artista para a fábrica na Grande São Paulo em setembro de 2008.

Campanha foi veiculada também em anúncios de jornais

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Legenda da foto, Campanha foi veiculada também em anúncios de jornais

O arquivo enviado é o projeto vetorial do pato - que permite sua reprodução em qualquer tamanho.

Também na última terça, a campanha do pato foi reproduzida em anúncios de 14 páginas no primeiro caderno de jornais de grande circulação no país.

“Somos milhões de empregos e bilhões de reais em impostos”, dizia o título. “Chega de pagar o pato. O Brasil tem jeito”, concluía a mensagem.