#SalaSocial: Fãs e críticos debatem renúncia de ministro 'motoqueiro' da Grécia

Yanis Varoufakis | Foto: Reuters

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Atitude e visual "rebelde" de Varoufakis cativaram até a mídia alemã, uma das principais críticas da Grécia

Desde o início desta segunda-feira, um nome grego aparece nos trending topics brasileiros no Twitter: Varoufakis. O ex-ministro das Finanças grego se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais em todo o mundo ao anunciar sua renúncia na madrugada, surpreendendo até mesmo os apoiadores do partido governista, o Syriza, que teve uma vitória massiva no plebiscito do último domingo.

O economista de 54 anos teve um papel importante em convencer a maioria dos gregos a votar "não" – rejeitando as medidas de austeridade sugeridas à Grécia pelo FMI, pela União Europeia e pelo Banco Central Europeu.

Descrito como um profissional carismático e respeitado, ele se tornou uma espécie de celebridade mundial desde que foi nomeado para o governo grego. Seus colegas na zona do euro, no entanto, não parecem ter sido conquistados.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

Em um comunicado publicado em seu site nesta segunda-feira, Varoufakis afirmou que foi "informado sobre uma certa preferência pela minha 'ausência' em reuniões por parte de alguns participantes do grupo do euro e diversos 'parceiros'".

Durante as negociações recentes, ele entrou em conflito com os credores diversas vezes e acredita que sua renúncia ajudará o primeiro-ministro Alexis Tsipras a conseguir um acordo em Bruxelas.

Na véspera do plebiscito de domingo, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, o agora ex-ministro acusou os credores do país de "terrorismo" e afirmou que, mesmo que o "não" vencesse, um acordo seria fechado ainda nesta semana.

"O que eles estão fazendo com a Grécia tem um nome: terrorismo. Por que eles nos forçaram a fechar os bancos? Para assustar as pessoas. E quando se fala de espalhar o terror, isso é conhecido como terrorismo", afirmou.

O governo grego anunciou que Varoufakis será substituído pelo economista Euclid Tsakalotos.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

'Varoufitses'

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

Em janeiro, quando candidatou-se ao Parlamento grego, Varoufakis conseguiu mais votos que qualquer outro candidato nas eleições que levaram seu partido, o Syriza (Coligação da Esquerda Radical, na abreviação grega) ao governo. Logo após a vitória, ele embarcou em uma turnê europeia passando por Londres, Paris, Roma e Berlim.

A visão de um ministro atlético e de cabeça raspada que se recusava a usar gravatas e circulava em uma motocicleta fascinou jornalistas, editores de moda e colunistas de celebridades.

Até a imprensa alemã – uma das mais críticas à Grécia – parecia impressionada. A âncora do canal ZDF, Marietta Slomka, chegou a dizer que "ele é alguém que você imaginaria em um filme como Duro de Matar 6" e o jornal conservador Die Welt publicou uma reportagem sobre "O que faz de Yanis Varoufakis um símbolo sexual".

Em seu próprio país, a palavra "Varoufitses" foi cunhada para descrever seus fãs, especialmente as mulheres.

Até este momento, Varoufakis tem cerca de 530 mil seguidores no Twitter, uma série de páginas de fãs no Facebook e inspirou um videogame chamado "Syrizaman vs. Troika".

Ele entrou na cena política grega em 2010, quando Atenas pediu um plano de resgate financeiro a seus parceiros europeus e ao FMI. Ele era um dos poucos economistas conhecidos a condenar o resgate, pedindo que o governo optasse pela inadimplência.

"Podemos suportar a dor. O problema é que a troika (nome dado ao grupo dos principais credores da Grécia, formado por UE, FMI e Banco Central Europeu) está sugerindo uma 'terapia' que, até onde eu sei, não é só dolorosa, mas é pior do que a doença", disse, em seu blog.

Os textos em seu blog atraíram atenção por explicarem conceitos econômicos em linguagem leiga. Em 2012, ele tornou-se professor da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e conquistou o popular economista americano James Galbraith, que o descreveu como um acadêmico brilhante e professor popular entre os alunos.

Após sua saída, no entanto, nem todos pareceram decepcionados. O ministro de Finanças da Bélgica, Johan Van Overtveldt, disse à rádio VRT que não sentiria falta de Varoufakis, que, segundo ele, tornou as negociações mais difíceis com sua atitude.

"Ele complicou a situação para si mesmo. Não foi bom quando ele chamou os colegas de terroristas", disse Van Overtveldt, segundo o analista belga Pieter Cleppe.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

'Deus da economia'

No Twitter, o editor de política da BBC, Nick Robinson, também sugeriu que a linguagem usada por Varoufakis em relação aos credores pode ter influenciado sua saída.

"É um pouco complicado pedir a pessoas que você acabou de chamar de terroristas que perdoem bilhões de euros em dívidas. Assim, Yanis Varoufakis sai de cena", afirmou.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

Seus fãs, no entanto, foram às redes sociais prestar apoio. Em montagens bem humoradas, alguns o apresentaram como um guerreiro, como uma estátua do "Deus da economia" e até como o guerrilheiro Che Guevara, em camisetas vendidas online.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

Já o perfil conhecido como The Greek Analyst (O analista grego, em tradução livre), do autor de um blog sobre a economia e a política da Grécia, responsabilizou o ex-ministro pela falta de um acordo sobre a dívida do país.

"Para deixar claro, a renúncia de Varoufakis não o torna menos responsável pelo quão ruins foram as negociações desde janeiro. Nem um pouco (menos responsável)", tuitou.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

No Brasil, o escritor carioca João Paulo Cuenca chegou a chamar o ex-ministro grego de "herói", mas não faltaram piadas que relacionavam a renúncia de Varoufakis com o debate sobre a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Foto: Reprodução

Crédito, BBC World Service

'Dever moral'

Varoufakis chegou a dizer que "nunca, nunca, nunca", deixaria a academia pela política. O que o fez mudar de ideia?

Pessoas próximas a ele disseram à BBC que o economista sentiu uma "responsabilidade moral" de aceitar o convite de Alexis Tsipras. Elas também o descreveram como um viciado em trabalho que dorme poucas horas e um ideólogo, convencido do fracasso da política de austeridade.

Especialistas afirmaram que seria mais fácil que o ex-ministro deixasse a política do que traísse suas convicções, e críticos afirmam que ele pode se dar ao luxo de ser desafiador, já que tem cidadania grega e australiana, e a chance de voltar a lecionar quando quiser.

Ainda não se sabe qual será o caminho que Varoufakis escolherá, mas ele diz continuar satisfeito com seu trabalho na Grécia.

"Levarei o ódio dos credores com orgulho", escreveu em seu blog nesta segunda-feira. A frase foi reproduzida por milhares no Twitter e chegou a ser chamada de "puro rock'n'roll".