Mostra inédita reúne 'arte degenerada' leiloada por nazistas

  • Márcia Bizzotto
  • De Bruxelas para a BBC Brasil
Ville de Liege

Crédito, Ville de Liege

Legenda da foto, Cerca de 7 mil obras foram confiscadas dos museus alemães; critério de seleção nunca foi claro, segundo Jean-Patrick Duchesne, curador da exposição

Uma exposição na Bélgica reúne pela primeira vez em uma mostra quadros de "arte degenerada" que foram leiloados pelo regime nazista na Suíça em 1939.

Antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial em 1939, o líder alemão Adolf Hitler já tinha ordenado o confisco de cerca de sete mil obras de arte moderna - a própria expressão de arte moderna foi proibida pelo regime nazista.

Para o líder nazista, a arte deveria servir para exaltar exclusivamente a "beleza" e "superioridade" da raça ariana. Não eram toleradas representações subjetivas, abstratas ou de temas como sensualidade, prostituição, miséria, morte e solidão.

Mas esse critério de seleção nunca foi claro, de acordo com Jean-Patrick Duchesne, professor de história da arte e curador da exposição 'A Arte Degenerada de Acordo com Hitler', no centro cultural La Cité Miroir, em Liège.

"Há muitas ambiguidades e contradições em torno do conceito de 'arte degenerada'. Não há unanimidade a respeito dentro do regime (nazista)", explica.

Duchesne ressalta que a maioria das obras confiscadas foi conservada.

Em junho de 1939, especialistas contratados pelos nazistas selecionaram 108 quadros e 17 esculturas de "arte degenerada" considerados os mais valiosos para serem vendidos em um leilão na cidade suíça de Lucerna. O objetivo da venda era arrecadar recursos adicionais para financiar a política de expansão nazista.

Museu de Belas Artes de Liege

Crédito, Museu de Belas Artes de Liege

Legenda da foto, Um dos artistas visados por Hitler foi o impressionista alemão Lovis Corinth
Museu de Belas Artes de Liege

Crédito, Museu de Belas Artes de Liege

Legenda da foto, Entre as telas proibidas destacam as assinadas por artistas de países germânicos, como ‘Cavaleiro na Praia’, do alemão Max Liebermann
Em 1939, um lote de telas foi selecionado para um leilão para financiar a expansão nazista. Entre elas ‘O Almoço’, do pintor búlgaro Jules Pascin, da renomada Escola de Paris

Crédito, Museu de Belas Artes de Liege

Legenda da foto, Em 1939, um lote de telas foi selecionado para um leilão para financiar a expansão nazista. Entre elas ‘O Almoço’, do pintor búlgaro Jules Pascin, da renomada Escola de Paris
Museu de Belas Artes de Liege

Crédito, Museu de Belas Artes de Liege

Legenda da foto, ‘A Arte Degenerada de Acordo com Hitler’ reúne 30 telas, inclusive esta de Paul Gauguin

O lote incluía telas assinadas por mestres do expressionismo, como Paul Gauguin e Vincent Van Gogh; impressionistas alemães como Lovis Corinth e Ewald Mataré; e membros da renomada Escola de Paris, como Marc Chagall, Henri Matisse e Pablo Picasso.

Segundo o curador da exposição, os artistas mais visados na campanha para expor a "arte degenerada" eram os que vinham de países em que se falava alemão, como o alemão Max Liebermann, o austríaco Oskar Kokoschka e os suíços Cuno Amiet e Paul Klee,

A mostra em Liege, aberta até 29 de março de 2015, reúne 30 telas desse leilão histórico, provenientes de coleções públicas e privadas de diversas partes do mundo, além de documentos de época evocando o contexto do episódio.