Crise política e zika enfraquecem poder de influência do Brasil no mundo, aponta levantamento

Pessoa com bandeira do Brasil em Brasília

Crédito, EPA

Legenda da foto, Brasil perdeu ponto no quesito governo devido à crise

A crise política e a epidemia de zika fizeram o Brasil perder uma posição no ranking de soft power (poder de influência) organizado pela consultoria britânica Portland.

O Brasil ficou na 24ª posição entre 30 países - no ano passado, quando a lista foi lançada, ocupava o 23º lugar.

No topo do ranking estão os Estados Unidos, seguidos de Reino Unido e Alemanha. Na lanterna está a Argentina, único país latino-americano no grupo além do Brasil.

O país também ficou à frente dos outros Brics (grupo de emergentes) - a Rússia fica em 27º e a China em 28º.

O conceito de soft power costuma ser usado em contraposição ao de hard power, ligado a poderio militar e econômico. O soft power é uma influência que se dá por meios como a cultura e o esporte.

Placa de reunião sobre Dilma

Crédito, AFP

Legenda da foto, Epidemia de zika e microcefalia impactou notas de cultura e governo

Critérios

O índice da Portland combina alguns critérios objetivos (como taxa de homicídios, nota dos alunos do país em provas internacionais, etc.) com pesquisas de opinião e alguns dados fornecidos pelo Facebook (o número de seguidores dos líderes do país, por exemplo).

A consultoria analisa seis critérios: governo, cultura, educação, participação global, empresas e digital.

O Brasil perdeu pontos no sub-índice de governo, qua avalia valores políticos do país, instituições públicas e efeitos das políticas públicas.

O país tinha 48,08 de nota neste critério em 2015 e, em 2016, passou para 47,58. Mas, como a nota de outros países também caiu, o Brasil acabou subindo da 29ª para a 28ª posição nesse tema.

Segundo a Portland, a queda da nota do Brasilse deve à crise política, que resultou no afastamento tenporário da presidente Dilma Rousseff.

Protesto no Brasil

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Ranking analisa "soft power", poder de influência do país

Zika

Mas também houve a influência do que a consultoria vê como demora do governo em tomar providências para combater o vírus Zika.

A doença, ligada um boom nos casos de microcefalia em bebês, também afetou o índice cultura, que costuma ser um ponto alto do Brasil: é aí que entra a imagem simpática que o país tem no exterior com o samba e o futebol, por exemplo.

Às vésperas da Olimpíada do Rio, a consultoria diz que há preocupação com o potencial impacto do vírus nos Jogos.

O quesito educação também afetou a nota geral do Brasil - o país está em último na área, e antes estava na 23ª colocação.

Segundo a consultoria, as notas do exame internacional Pisa, no qual o Brasil não vai bem, foram incluídas neste ano entre os critérios do ranking e, com isso, prejudicaram a classificação do Brasil.

Subida

O Brasil melhorou, porém, no índice de participação global, que avalia os recursos diplomáticos e a contribuição para a comunidade internacional. O país subiu oito posições neste índice.

Apesar de a política externa do governo Dilma ser criticada por analistas e diplomatas, que afirmam que o Brasil perdeu relevância internacional, o índice considera algumas outras medidas: o fato de ter recebido refugiados sírios, por exemplo, contou pontos no modo como o país é visto.

Outra medida considerada, segundo a consultoria, foram acordos que fizeram com que o passaporte brasileiro "valesse" mais - ou seja, o brasileiro pode entrar em mais países agora sem precisar de visto.

Justin Trudeau

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Canadá subiu no ranking com ajuda de primeiro-ministro "queridinho" nas redes sociais

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Fim do Podcast

Os Estados Unidos ultrapassaram o Reino Unido e a Alemanha este ano, passando da terceira para a primeira posição. Eles são fortes em três áreas: educação, produção cultural e inovação tecnológica.

A Porland destaca a aparente contradição de o país melhorar em soft power exatamente em um momento em que o polêmico Donald Trump pode ser tornar presidente, mas afirma que algumas medidas de Barack Obama - como a reaproximação com Cuba - foram bem recebidas.

Segundo a consultoria, a queda do Reino Unido, que era o campeão no ano passado, reflete uma possível saída da União Europeia - haverá um plebiscito na semana que vem para decidir a questão do chamado "Brexit".

Caso o país saia da UE, ele perde sua vantagem de ser membros de quase todos os grandes grupos e fóruns globais (como a União Europeia, o G7, o Conselho de Segurança da ONU etc.).

A Portland também destaca o Canadá, que subiu no ranking ajudado pelo fenômeno do primeiro-ministro "queridinho" do país, Justin Trudeau.

Ele fez diversas viagens internacionais e usa bem as mídias sociais - no Brasil, por exemplo, viralizou pela resposta dada quando questionado sobre o motivo de metade dos integrantes de seu gabinete serem mulheres ("Porque estamos em 2015", respondeu).