Como demorar a chegar à TV fez bem a 'Game of Thrones'
- Jennifer Keishin Armstrong
- Da BBC Culture
Em 1996, "Game of Thrones" já precisava enfrentar sua fama exacerbada.
O livro de George RR Martin, que inspirou a renomada série da HBO, foi lançado em agosto daquele ano. E já se falava em uma guerra pelos direitos de adaptá-lo para o cinema ou a TV.
Mas quase duas décadas se passariam antes que Game of Thrones saísse do papel.
De certa forma, foi algo positivo: se tivesse sido transformada em filmes nos anos 90, a história teria sofrido com restrições orçamentárias e sua história possivelmente seria diluída para evitar uma classificação muito severa pelas autoridades americanas, que poderiam tornar a obra imprópria para menores de 17 anos.
E naquela época a TV ainda não tinha ocupado o espaço preferencial que agora desfruta no que diz respeito à produção de conteúdo mais adulto e de orçamentos mais graúdos.
Uma situação ideal, apesar de Martin não conseguir mais acompanhar o ritmo imposto pela série - cuja sexta temporada acabou de ir ao ar.
Martin começou a carreira de escritor em 1976, com a publicação de uma coleção de contos de fantasia - A Song for Lya and Other Stories. Foi bem recebida por crítica e público, mas não foi um sucesso comercial.
O americano então dedicou-se a escrever roteiros para a TV, trabalhando em episódios de Além da Imaginação e A Bela e a Fera.
Faz sentido, então, que sua volta aos livros tivesse uma influência para esse tipo de texto.
"Quando descrevo uma cena, vejo-a na minha cabeça da mesma maneira que um diretor enxerga uma tomada de cena", disse o escritor em uma entrevista de 2001.
"Eu consigo imaginar a luz, onde os personagens estão interagindo. Trabalhar com TV melhorou a maneira como escrevo diálogos."
Naquele momento, Martin já conversava com produtores interessados em Game of Thrones.
Quatro anos mais tarde, dois roteiristas - David Benioff e DB Weiss - leram os livros e decidiram adaptá-los. Mas para convencer o autor a dar-lhe os direitos, tiveram de responder corretamente à pergunta "Quem é a mãe de Jon Snow?".
O sucesso da trilogia cinematográfica O Senhor dos Anéis também ajudou a tornar a adaptação possível.
Naquela época, a TV americana estava em um período de transição: o sucesso de Os Sopranos, na mesma HBO, tinha alavancado a fórmula de material mais sofisticado e adulto da TV a cabo.
Também abriu espaço para uma era de TV serializada, em que cada show exigia atenção a cada capítulo para que as tramas fossem melhor entendidas.
Ainda assim, a HBO queria fazer uma série de fantasia drasticamente diferente do realismo de Os Sopranos.
No entanto, a emissora estava relutante em relação ao potencial, e o episódio-piloto de Game of Thrones teve que ser refilmado antes de, em 2011, finalmente estrear.
Mas os executivos de marketing da HBO logo perceberam que poderiam explorar o sucesso dos livros de Martin em fomentar uma espécie de culto online de sua obra - esses fãs poderiam ser embaixadores para um audiência mais ampla.
Desde o começo os fãs pularam no barco da série, reagindo em fóruns na internet e em mídias sociais ao anúncio de atores e afins.
Os produtores também afagaram a legião de seguidores ao permitir que o próprio Martin escrevesse alguns espisódios.
Em 2013, as contas de mídia social de Game of Thrones tinham 5,5 milhões pessoas registradas - e apenas um terço desses fãs estava nos EUA, onde a HBO está baseada.
O crescimento da base de fãs criou pressão mundial para que Martin escrevesse o sexto do que agora se espera ser uma série de sete livros.
O início da sexta temporada, em 24 de abril, fez com que a TV esteja agora à frente das histórias originais. Martin ainda serve como consultor, mas deixou de fazer aparições públicas e de escrever roteiros para se dedicar somente aos livros.
Benioff e Weiss atribuem o sucesso de Game of Thrones à complexidade dos personagens. Mas qualquer que seja a resposta real, o fato é que a série recebe atenção mundial minuciosa: cada trailer é analisado minuto a minuto e a atração dominou o Emmy Awards de 2015, apesar de estar competindo com a última temporada de Mad Men, além de repetir o incrível desempenho em indicações para a edição deste ano.
Com grandes orçamentos, elenco de prestígio e uma audiência leal, Game of Thrones é praticamente impossível de imitar: o destino foi favorável à criação de Martin nos últimos 20 anos.
Espera-se apenas que não sejam necessárias outras duas décadas para que os livros finalmente sejam concluídos e Westeros possa enfim descansar.
Leia a versão original dessa reportagem (em inglês) no site BBC Culture.