A explosão da baleia: a curiosa história por trás de um dos maiores virais da história da internet

Paul Linnman e a baleia
Legenda da foto, Paul Linnman e um cinegrafista fizeram a cobertura da explosão da baleia; décadas depois, o vídeo viralizou | Foto: The Exploding Wale/YouTube

A notícia parece surreal e, durante anos, muitos pensaram que se tratava de uma lenda urbana: uma baleia "explodindo" no meio de uma praia nos Estados Unidos.

Mas aconteceu de verdade. Foi em 1970 - e décadas depois, graças à internet, a história viralizou e se tornou um exemplo sobre como não fazer as coisas.

Tudo começou na quarta-feira, 11 de novembro, há 47 anos, em uma praia perto de Florence, no Estado do Oregon, quando uma enorme baleia cachalote apareceu morta no mar.

Paul Linnman à época era um repórter de 23 anos que trabalhava para um canal de televisão local chamado Katu-TV.

Nesse dia, o diretor de notícias o chamou em seu escritório.

"Ele disse que queria que eu fosse para a costa sul no dia seguinte para cobrir uma história. Que iria de avião e com o fotógrafo e que desceríamos ali. Aí eu pensei: uau, essa TV não costuma gastar muito dinheiro à toa. O que será que está acontecendo?", conta Linmann à BBC.

O chefe respondeu: "É uma baleia que está lá. E eles vão explodi-la com uma dinamite."

No dia seguinte, Paul e o cinegrafista Doug Brazil aterrissaram na cidade de Florence.

Uma ideia explosiva

Não é raro ver esses animais nas praias de Oregon, mas normalmente são baleias-cinzentas - mas nesse caso era uma espécie muito maior, a cachalote.

"Ela media cerca de 14 metros e pesava 40 a 65 toneladas. Era enorme!", recorda Linnman.

O problema, segundo o jornalista, era como tirá-la dali.

"Não havia nenhuma maneira fácil de movê-la. E não podiam deixá-la na praia por vários dias, porque começaria a se decompor", explica.

Baleia encalhada
Legenda da foto, Uma enorme baleia entre 40 a 65 toneladas foi encontrada morta e encalhada na praia - diante da situação, a atitude do governo foi de determinar que a explodissem | Foto: The Exploding Wale/YouTube

"Também não poderiam enterrá-la, porque a água sob a areia a arrastaria de volta para a superfície. E não era possível devolvê-la ao mar porque era muito pesada, não dava para mover seu corpo todo."

"O governo então decidiu que a única coisa que poderia ser feita era explodi-la, para que ficasse em pedaços menores e que as gaivotas se encarregassem de seus restos", explicou - as aves haviam passado o dia todo observando o cadáver da baleia.

A ideia parecia com poucas chances de dar certo - como acabou sendo provado.

Paul Linman reconhece, aos risos, que quando soube o que iria acontecer, não achou nada razoável. "Quando entrevistei os responsáveis, eu não conseguia entender como eles viam alguma lógica nisso", lembra.

"Eu era um repórter de notícias quentes, não pressionei as autoridades o suficiente. Talvez devesse ter feito isso", lamenta.

'Como em um filme'

Quando chegaram à praia, Linnman e o cinegrafista sentiram o cheiro do corpo morto da baleira de imediato.

"Estávamos entre 50 e 100 metros de distância e o cheiro era absurdo, sentimos assim que abrimos a porta do carro. É um odor horrível! Lembro dele perfeitamente", garante.

George Thornton era o engenheiro responsável pela operação. Ele trabalhava no Departamento de Transporte e era engenheiro civil - morreria em 2012, aos 84 anos.

A tarefa acabou caindo em suas mãos porque naquele dia seus colegas e chefes estavam fora - tinham ido caçar veados, já que naquele fim de semana havia sido inaugurada a temporada de caça desses animais em Oregon, conforme conta Linnman.

Baleia encalhada

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Muitas vezes, as baleias doentes acabam encalhadas nas praias, como essa em Nova Gales do Sul
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O jornalista recorda que foi orientado a ficar a uns 900 metros de distância. Todos veriam um sinal - uma bandeira vermelha - anunciando o momento em que a explosão iria acontecer.

"Parecia um filme ou programa de TV. Escutamos um barulho enorme. Dough e eu nos olhamos, tentando imaginar o que estava acontecendo. Por sorte, fiz serviço militar e nunca estive em combate, então isso foi o mais próximo que já estive de uma situação dessas", diz Linnman.

"Esses pedaços que caíam do céu poderiam realmente ter nos matado. Foram disparados, como balas. Aí começamos a correr."

"Corremos por cerca de 10 metros e escutamos uma segunda explosão. Não tínhamos ideia do que era."

"Quando descemos do lugar em que estávamos e fomos ao estacionamento, vimos um pedaço do tamanho de uma mesa de café que atingiu nosso carro. Por isso tínhamos ouvido a segunda explosão, as janelas explodiram", lembra.

O jornalista conta que ninguém ficou ferido, mas que foi por pouco.

"Quando vimos que todos estávamos sãos e salvos, rimos da situação por um tempo. Depois olhamos para baixo e vimos os restos do corpo da baleia, o combustível, a gordura, o sangue e um cheiro ainda pior", relatou.

Celebridade global

Paul e Dough voltaram a Portland, a capital de Oregon, começaram a editar a reportagem para o noticiário da noite.

O repórter encontrou dificuldades para encontrar o tom adequado para contar a história.

"Era muito difícil contar com seriedade o que aconteceu e, ao mesmo tempo, dar um toque de humor. Eu tentei fazer algo assim. Acho que o roteiro ficou bom, mas hoje penso que teria feito algo diferente."

A história iria ao ar apenas no noticiário local, mas acabou dando a volta ao mundo.

A explosão da baleia
Legenda da foto, Um engenheiro coordenou a explosão | Foto: The Exploding Wale/YouTube

"Antes de existir a internet, existia uma coisa chamada boletins eletrônicos. Eu forneci as filmagens. Pouco depois, Dave Barry, um humorista americano, escreveu que aquilo foi a 'notícia mais divertida que ele havia visto na vida'. Isso chamou muito a atenção de todos", diz Linnman.

Depois, com o advento da internet, a "explosão da baleia" se tornaria uma das notícias de TV mais vistas da história.

"Pessoas de todo o mundo seguiram assistindo ao vídeo ao longo do tempo. Surgiram menções em comédias na televisão, desenhos animados... Praticamente todos os dias, duas ou três pessoas - e às vezes mais - me falam algo sobre esse material."

"É um assunto que durou 47 anos", explica Linnman, que escreveu um livro sobre o que aconteceu.