Quem é Paul Manafort, o homem que ajudou Trump a ser eleito e agora está na mira da Justiça

Manafort

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Manafort renunciou ao cargo de chefe de campanha de Trump em agosto do ano passado

Quando começou a fazer parte da campanha presidencial de Donald Trump, em março de 2016, Paul Manafort era um nome de pouca expressão em Washington.

O ex-consultor político já havia trabalhado em campanhas presidenciais do Partido Republicano - entre elas, a 1976, que elegeu Gerald Ford - e em outras ao redor do mundo. Esperava-se que seus 40 anos de experiência política pudessem ajudar a amenizar um pouco as polêmicas ao redor de Trump.

Ele defendeu uma campanha mais disciplinada e convencional, com discursos que seguiam à risca o roteiro e os teleprompters (equipamento muito usado em gravações de TV e publicidade que exibe o texto a ser lido), em vez da abordagem imprevisível do então candidato.

O veterano mal chegou e logo foi promovido a chefe da campanha do hoje presidente americano. Viu de perto o crescimento de Trump, que culminou em sua nomeação como candidato republicano à Presidência.

Mas o próprio Manafort se viu envolto em uma grande polêmica. Agora, ele responde às acusações de um inquérito federal sobre lavagem de dinheiro e conspiração contra os Estados Unidos, que envolvem suspeitas de ligação com a Rússia.

'Sem sentido'

Nascido na Nova Inglaterra, em Connecticut, em 1º de abril de 1949, Paul Manafort estudou Direito na Universidade Georgetown. Ele trabalhou com outros republicanos renomados, como os ex-presidentes Ronald Reagan e George Bush, além de Bob Dole, que perdeu as eleições de 1996 para Bill Clinton.

Antes de ter se envolvido com a antiga União Soviética, trabalhou para o ditador Ferdinand Marcos, que governou as Filipinas por 21 anos, o ex-presidente do Zaire (hoje República Democrática do Congo), Mobutu Sese Seko, e o líder recente dos rebeldes angolanos, Jonas Savimbi.

Mas foi seu trabalho mais recente na Ucrânia que levantou as suspeitas.

Enquanto Manafort estava cuidando da campanha, o Partido Republicano mudou a linguagem do seu posicionamento sobre o conflito no país, retirando o sentimento "anti-Rússia" - algo que teria sido feito a pedido de dois representantes da campanha de Trump.

Viktor Yanukovych e Vladimir Putin

Crédito, AFP

Legenda da foto, Manafort foi conselheiro de Viktor Yanukovych (à esquerda) mas nega qualquer relação com Vladimir Putin (à direita)
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Seu trabalho com o então candidato terminou em agosto de 2016, quando ele renunciou ao cargo após notícias a respeito da consultoria que ele teria prestado para o hoje deposto presidente ucraniano pró-Rússia quando ele ainda estava no cargo.

O jornal The New York Times noticiou que o governo ucraniano havia divulgado comprovantes de pagamento de mais de US$ 12 milhões em dinheiro por seu trabalho como conselheiro para Víktor Yanukovych - dinheiro que não teria sido declarado ao fisco americano.

Ele negou de forma veemente as acusações e reiterou que não cometeu crime. "A suspeita de que eu teria aceitado pagamentos em dinheiro não tem fundamento, é boba e sem sentido", afirmou à rede NBC.

Os pagamentos direcionados a ele foram "para toda a equipe política, de campanha, pesquisa, anúncios de TV, etc.", afirmou.

A campanha de Trump não justificou sua saída à época - apenas divulgou uma nota genérica desejando sorte no seu futuro.

Desde então, a polêmica que liga Manafort à Rússia só cresceu.

Alvo do FBI

Também surgiram suspeitas de que ele tenha trabalhado secretamente para um bilionário russo para ajudar o presidente Vladimir Putin a atingir seus objetivos em outras partes da antiga União Soviética - algo que Manafort negou.

Manafort e Trump
Legenda da foto, Manafort entrou no meio da campanha de Trump - e saiu dela antes da vitória dele

Em junho, ele se registrou de maneira retroativa no Departamento de Justiça dos Estados Unidos como agente estrangeiro pelo serviço de consultoria prestado entre 2012 e 2014 para o partido do ex-presidente ucraniano. E confirmou a informação de que sua empresa, a DMP International, havia recebido mais de US$ 17 milhões do Partido das Regiões da Ucrânia.

Depois, em julho, o filho de Donald Trump admitiu ter encontrado um advogado russo antes da eleição - ele teria prometido revelar um material prejudicial à campanha da democrata Hillary Clinton. Manafort estaria presente nesta reunião.

No mês seguinte, seu porta-voz confirmou que o FBI havia conduzido uma busca em sua casa na Virgínia durante a madrugada e apreendido arquivos e outros materiais.

Depois, foi noticiado que ele estava sendo grampeado pelo FBI por causa de suspeitas a respeito de suas ligações com Moscou. O grampo foi autorizado por mandado judicial e teria acontecido antes e depois das eleições.

O FBI está comandando uma das várias investigações sobre a suposta intervenção russa na eleição americana do ano passado. Manafort entregou arquivos para o Comitê de Justiça do Senado e para os Comitês de Inteligência do Senado e da Câmara para suas respectivas investigações sobre a Rússia.