'Isso não é a peste negra; não é como se não tivéssemos ideia do que está matando as pessoas', diz Harari

Yuval Noah Harari

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'Não é a Idade Média. Não é a peste negra. Não é como se as pessoas estivessem morrendo e não tivéssemos ideia do que as está matando e o que pode ser feito sobre isso', diz Harari.

Que tipo de sociedade surgirá desta pandemia? Os países estarão mais unidos ou mais isolados? Ferramentas de vigilância serão usadas para proteger ou oprimir os cidadãos?

As escolhas que estamos fazendo para combater a covid-19 moldarão nosso mundo nos próximos anos, afirma o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor de Sapiens: Uma Breve História da Humanidade.

Em uma entrevista ao programa Newshour da BBC, o escritor trouxe reflexões sobre os desafios diante de nós.

"A crise nos obriga a tomar decisões muito importantes e tomá-las rapidamente. Mas temos opções."

'Questão política'

"Talvez as duas opções mais importantes sejam: se enfrentamos esta crise por meio do isolamento nacionalista ou se enfrentamos através da cooperação e solidariedade internacionais", afirmou. "Em segundo lugar, dentro de um país, as opções são tentarmos superar a crise por meio de controle e vigilância totalitário e centralizado, ou por meio da solidariedade social e do empoderamento dos cidadãos", acrescentou.

Mapa da disseminação do coronavírus, por 22 de abril de 2020

A apresentação usa dados periódicos da Universidade John Hopkins e pode não refletir as informações mais atualizadas de cada país.

Total de casos confirmados Número de mortes
2.524.433 177.503
Casos Mortes
Estados Unidos 824.065 44.996
Espanha 204.178 21.282
Itália 183.957 24.648
Alemanha 148.453 5.086
Reino Unido 129.044 17.337
França 117.324 20.796
Turquia 95.591 2.259
Irã 84.802 5.297
China 83.864 4.636
Rússia 52.763 456
Brasil 43.368 2.761
Bélgica 40.956 5.998
Canadá 39.405 1.915
Holanda 34.139 3.916
Suíça 28.063 1.478
Portugal 21.379 762
Índia 20.111 645
Peru 17.837 484
Irlanda 16.040 730
Suécia 15.322 1.765
Áustria 14.873 491
Israel 13.942 184
Arábia Saudita 11.631 109
Japão 11.512 281
Chile 10.832 147
Coreia do Sul 10.694 238
Equador 10.398 520
Polônia 9.856 401
Paquistão 9.749 209
México 9.501 857
Romênia 9.242 498
Cingapura 9.125 11
Emirados Árabes Unidos 7.755 46
Dinamarca 7.695 370
Noruega 7.241 182
Indonésia 7.135 616
República Tcheca 7.033 201
Belarus 6.723 55
Austrália 6.647 74
Sérvia 6.630 125
Filipinas 6.599 437
Catar 6.533 9
Ucrânia 6.125 161
Malásia 5.482 92
República Dominicana 5.044 245
Panamá 4.821 141
Colômbia 4.149 196
Finlândia 4.014 141
Luxemburgo 3.618 78
Egito 3.490 264
África do Sul 3.465 58
Bangladesh 3.382 110
Marrocos 3.209 145
Argentina 3.144 151
Tailândia 2.826 49
Argélia 2.811 392
Moldávia 2.614 72
Grécia 2.401 121
Hungria 2.168 225
Kuwait 2.080 11
Cazaquistão 2.025 19
Bahrein 1.973 7
Croácia 1.908 48
Islândia 1.778 10
Uzbequistão 1.692 6
Iraque 1.602 83
Estônia 1.552 43
Omã 1.508 8
Azerbaijão 1.480 20
Nova Zelândia 1.451 14
Armênia 1.401 24
Lituânia 1.370 38
Eslovênia 1.344 77
Bósnia-Herzegóvina 1.342 51
Macedônia do Norte 1.231 55
Eslováquia 1.199 14
Camarões 1.163 43
Cuba 1.137 38
Afeganistão 1.092 36
Gana 1.042 9
Bulgária 1.015 47
Djibuti 945 2
Costa do Marfim 916 13
Porto Rico 915 64
Tunísia 901 38
Chipre 784 12
Nigéria 782 25
Letônia 748 9
Andorra 717 37
Cruzeiro Diamond Princess 712 13
Guiné 688 6
Líbano 677 21
Costa Rica 669 6
Níger 657 20
Quirguistão 612 7
Albânia 609 26
Bolívia 609 37
Burkina Fasso 600 38
Uruguai 543 12
Kosovo 510 12
Honduras 510 46
San Marino 476 40
Territórios Palestinos 466 4
Malta 443 3
Jordânia 428 7
Taiwan 425 6
Senegal 412 5
Ilha Reunião 410
Geórgia 408 4
República Democrática do Congo 350 25
Maurício 328 9
Guatemala 316 8
Montenegro 313 5
Mayotte 311 4
Sri Lanka 310 7
Ilha de Man 307 9
Quênia 296 14
Venezuela 288 10
Somália 286 8
Vietnã 268
Mali 258 14
Jersey 255 14
Tanzânia 254 10
Guernsey 241 10
Jamaica 233 6
El Salvador 225 7
Paraguai 213 9
Ilhas Faroe 185
Congo 165 6
Martinica 164 14
Gabão 156 1
Ruanda 150
Guadalupe 148 12
Sudão 140 13
Brunei 138 1
Guam 136 5
Gibraltar 132
Camboja 122
Mianmar 121 5
Madagascar 121
Trinidad e Tobago 115 8
Etiópia 114 3
Libéria 101 8
Bermuda 98 5
Guiana Francesa 97 1
Aruba 97 2
Mônaco 94 3
Maldivas 86
Togo 86 6
Guiné Equatorial 83
Liechtenstein 81 1
Barbados 75 5
Zâmbia 70 3
Cabo Verde 68 1
Antilhas Holandesas 68 10
Ilhas Cayman 66 1
Guiana 66 7
Bahamas 65 9
Uganda 61
Líbia 59 1
Haiti 58 4
Polinésia Francesa 57
Benin 54 1
Ilhas Virgens Americanas 53 3
Serra Leoa 50
Guiné-Bissau 50
Nepal 42
Síria 42 3
Moçambique 39
Eritreia 39
Ilha de São Martinho (parte francesa) 38 2
Mongólia 35
Chade 33
Eswatini 31 1
Zimbábue 28 3
Antigua e Barbuda 24 3
Angola 24 2
Timor Leste 23
Botsuana 20 1
Laos 19
Malauí 18 2
Nova Caledônia 18
Belize 18 2
Fiji 18
Namíbia 16
Dominica 16
Santa Lúcia 15
São Cristóvão e Nevis 15
Antilhas Holandesas 14 1
Ilhas Marianas Setentrionais 14 2
República Centro-Africana 14
Granada 14
São Vicente e Granadinas 13
Montserrat 11
Ilhas Malvinas ou Falkland 11
Ilhas Turks e Caicos 11 1
Groenlândia 11
Burundi 11 1
Seicheles 11
Suriname 10 1
Gâmbia 10 1
Nicarágua 10 2
Vaticano 9
Cruzeiro MS Zaandam 9 2
Papua Nova Guiné 7
Mauritânia 7 1
Butão 6
São Bartolomeu 6
Saara Ocidental 6
Ilhas Virgens Britânicas 5 1
Sudão do Sul 4
São Tomé e Príncipe 4
Anguilla 3
Iêmen 1
Saint-Pierre e Miquelon 1

Fonte: Universidade John Hopkins, autoridades locais

Última atualização em 22 de abril de 2020 06:00 GMT.

A pandemia de coronavírus levantou questões tanto científicas quanto políticas, ressaltou Harari.

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No entanto, ele afirma que, embora tenhamos abordado alguns dos desafios científicos, pensamos menos sobre como reagimos aos desafios políticos.

"A humanidade tem tudo o que precisa para conter e superar essa epidemia", afirmou. "Não é a Idade Média. Não é a peste negra. Não é como se as pessoas estivessem morrendo e não tivéssemos ideia do que as está matando e o que pode ser feito sobre isso."

Cientistas chineses já identificaram e sequenciaram o vírus Sars-CoV-2 no centro do surto. Muitas outras nações têm conduzido investigações semelhantes.

Embora não haja cura para a covid-19, os pesquisadores fizeram progressos na busca de uma vacina usando a mais recente tecnologia médica e inovação.

E sabemos que algumas ações, como lavagem das mãos e distanciamento social, podem ajudar a nos proteger do vírus e evitar que ele se espalhe.

"Entendemos completamente o que estamos enfrentando e temos a tecnologia, temos o poder econômico para superar isso", disse Harari. "A pergunta é: como usamos esses poderes? E essa é principalmente uma questão política."

Tecnologia perigosa

No contexto de uma emergência, os processos históricos avançam rapidamente e as decisões que normalmente levariam anos de deliberação são tomadas da noite para o dia, argumentou Harari em um artigo publicado no jornal Financial Times em 20 de março.

As tecnologias de vigilância que estão sendo produzidas a uma velocidade vertiginosa podem ser colocadas em prática sem desenvolvimento adequado ou debate público, ressalta o escritor.

Nas mãos erradas, diz Harari, essas tecnologias podem ser usadas pelos governos para "instituir regimes de vigilância total que coletam dados de todos e depois tomam decisões de maneira opaca".

Em Israel, por exemplo, o governo aumentou o poder dos serviços secretos - e não apenas o das autoridades de saúde - para acessar dados como a localização de pessoas que foram infectadas.

Isso também foi testado na Coreia do Sul, mas Harari acredita que no país asiático houve maior transparência.

Na China, que possui uma das operações de vigilância mais sofisticadas do mundo, foi usado reconhecimento facial para multar cidadãos que quebraram a quarentena.

Isso pode se justificar no curto prazo, disse Harari, mas ele aponta que há riscos se essas medidas se tornarem permanentes.

Imagem de uma tela de um equipamento de reconhecimento facial na China.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

A China usou o reconhecimento facial para conter o surto e multar os cidadãos que quebraram a quarentena.

"Concordo que os governos tomem medidas fortes, às vezes radicais, tanto em termos de assistência médica quanto econômica. Mas, em primeiro lugar, isso tem deveria ser feito por um governo que represente todo o povo", afirmou. "Em tempos normais, você pode governar um país com o apoio de apenas 51% da população. Mas, em um momento como esse, o governo precisa representar e cuidar efetivamente de todos", disse ele.

Falta de união versus cooperação

Segundo Harari, nos últimos anos, governos eleitos ou formados sob égides nacionalistas e populistas dividiram sociedades em dois campos hostis e aumentaram o ódio por estrangeiros e nações estrangeiras.

Mas a crise global de saúde mostrou que as pandemias não discriminam grupos sociais ou países.

Devemos escolher entre seguir o caminho da divisão ou o da cooperação diante das adversidades, destacou o historiador.

Vários países focaram em uma abordagem mais individualista na administração da crise, convocando empresas privadas a contribuírem no combate à covid-19 com infraestrutura e suprimentos médicos.

Os Estados Unidos foram particularmente criticados por supostamente minarem tentativas de outros países a obter máscaras, produtos químicos e respiradores.

Teme-se que as vacinas produzidas em laboratórios nos países ricos não cheguem aos países em desenvolvimento e aos mais pobres em quantidades suficientes.

E, no entanto, dadas as possibilidades de cooperação hoje, lições aprendidas por um grupo de cientistas chineses pela manhã, podem, à noite, salvar uma vida em Teerã, no Irã, disse Harari.

É "muito mais racional" fortalecer a cooperação global, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e a distribuição justa de recursos humanos e materiais entre todos os países afetados pela doença.

"Na verdade, teríamos que olhar para a Idade da Pedra para encontrar a última vez que as pessoas puderam se defender completamente contra epidemias por meio do isolamento", disse ele.

"Mesmo na Idade Média, as epidemias se espalharam, como foi o caso da peste negra no século 14.".

Isso pode mudar nossa natureza social?

Quaisquer que sejam os resultados de nossas escolhas, o renomado historiador acredita que continuaremos sendo "animais sociais".

O vírus "está explorando a melhor parte da natureza humana", ou seja, nosso instinto de sentir compaixão e estar próximo daqueles que adoecem, ele disse.

"O vírus tira vantagem disso para nos infectar. E agora é preciso manter esse isolamento social e ser inteligente e agir com a cabeça, e não apenas com o coração", ele insiste.

"Mas é muito difícil para nós, como animais sociais. Acredito que quando a crise acabar, as pessoas sentirão ainda mais a necessidade de estabelecer vínculos sociais. Não creio que possa haver uma mudança fundamental na natureza humana."

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