'Vou perder R$ 15 mil': as histórias reais de vítimas de hackers de criptomoedas

  • Joe Tidy
  • BBC News
Homem olhando para ações na bolsa

Crédito, Getty Images

O taxista Chris está checando obsessivamente seu telefone em busca de atualizações.

"Vou perder quase 2,5 mil euros (cerca de R$ 15 mil) em criptomoedas", diz ele.

Chris se descreve como "um pequeno detentor de criptomoedas da Áustria" — e ele é uma das várias vítimas de um ataque online à bolsa de criptomoedas Liquid Global na semana passada.

A empresa insistiu que vai ressarcir todos os clientes que foram lesados no ataque de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 525 milhões).

Mas até receberem o dinheiro de volta, muitos clientes estão preocupados.

Cada vez que Chris, de 38 anos, pega um passageiro em seu velho Volkswagen, ele se lembra do que está em jogo.

"Meu carro tem mais de 20 anos e eu poderia ter comprado um carro usado novo com aquele dinheiro", diz ele.

"Não é catastrófico, mas ainda é uma quantia e tanto para mim. Preciso de pelo menos um ano para economizar esse valor."

Notas de dólares americanos e moedas simbolizando Bitcoins

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Há atualmente 2,3 milhões de investidores em criptomoedas só no Reino Unido, em comparação com 1,9 milhão no ano passado

'Meu estresse está no nível oito em uma escala de 10'

Na Indonésia, Dina, de 27 anos, diz que está em choque.

"Estou com muita raiva dos hackers e me sentindo estressada. Tenho cerca de US$ 30 mil (aproximadamente R$ 157 mil) e preciso desse dinheiro para viver. Sou uma simples dona de casa tentando ganhar dinheiro com criptomoedas."

No outro lado da balança, um médico norueguês de 42 anos diz que está com dificuldade para se concentrar, porque pode perder uma fortuna que viu crescer ao longo dos anos.

"Meu saldo líquido é de 969 mil euros (quase R$ 6 milhões). É extremamente preocupante para mim, e meu estresse está no nível oito em uma escala de 10. Estou sempre pensando nisso."

Pais em pânico

Em Sydney, na Austrália, James descreve o estresse que o ataque hacker exerceu sobre seus pais, que conseguiram sacar o dinheiro com prejuízo antes que a empresa bloqueasse as transações.

"Minha mãe e meu pai tinham bitcoins lá, cerca de 70 mil dólares australianos (aproximadamente R$ 267 mil). Era, e continua sendo, muito dinheiro para eles."

"Obviamente, gerou estresse. No início, eles não tinham ideia do que estava acontecendo, depois sentiram que foram basicamente forçados a vender em pânico e sacar, o que significa que perderam cerca de 10 mil dólares australianos (R$ 38 mil)."

A Liquid Global foi hackeada na semana passada, e o dinheiro dificilmente será recuperado.

A empresa japonesa informou na quarta-feira que está realizando uma revisão de segurança robusta e quer "garantir aos usuários que eles não vão sofrer nenhuma perda devido ao incidente".

As bolsas são seguras?

Bolsas como a Liquid Global são uma parte vital do mundo crescente das criptomoedas.

São os sites que permitem às pessoas comprar e vender moedas digitais, como Bitcoin e Ethereum, e um lugar em que muitos deixam suas moedas guardadas.

No entanto, a segurança dessas bolsas é questionável.

No início deste mês, outra plataforma de criptomoeda chamada Poly Network também foi hackeada e perdeu US$ 610 milhões (R$ 3,2 bilhões) dos fundos de seus clientes.

Dezenas de outros ataques contra plataformas de criptomoedas resultaram em pelo menos £ 1,6 bilhão (cerca de R$ 11,5 bilhões) roubados por hackers desde 2014.

Os maiores roubos de criptomoeda de todos os tempos

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Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

- BitGrail: US$ 146 milhões foram hackeados da bolsa italiana em 2018. Estima-se que 230 mil usuários da BitGrail perderam seus fundos.

- KuCoin: US$ 281 milhões foram roubados por supostos hackers norte-coreanos neste ataque à bolsa com sede em Seychelles em 2020. A empresa recuperou a maior parte dos fundos e reembolsou os clientes.

- MtGox: US$ 450 milhões, principalmente de bitcoins, foram hackeados em 2014, o que provocou a quebra da bolsa japonesa. Nenhum dos clientes foi reembolsado ainda.

- Coincheck: US$ 534 milhões foram roubados em 2018 da bolsa japonesa. Os clientes acabaram sendo reembolsados.

- Poly Network: US$ 610 milhões, em várias moedas, foram hackeados da plataforma chinesa no início deste mês. O hacker devolveu todos os fundos, e os clientes começaram a ser reembolsados.

Incidentes envolvendo dezenas de milhões, ou até mesmo centenas de milhões de dólares, estão acontecendo quase todos os meses — e como estas plataformas, em grande parte, não são regulamentadas, não há garantia de que os clientes receberão seu dinheiro de volta.

Illustration of Bitcoin balloon bursting

Crédito, Getty Images

'Corte de cabelo'

Já houve casos de clientes que perderam cada centavo digital ou foram ressarcidos apenas parcialmente ​​— o que é carinhosamente conhecido como hair cut ("corte de cabelo", em tradução literal).

"Não haverá hair cuts", tuitou Seth Melamed, diretor de operações da Liquid Global, na terça-feira.

A analista financeira Frances Coppola diz que os sistemas de criptomoeda não estão aprendendo as lições sobre segurança com rapidez suficiente.

"O sistema bancário padrão é incrivelmente protetor em relação à segurança e é regulamentado até a morte sobre isso", diz ela.

"Os bancos sofrem, na verdade, ataques de hackers o tempo todo. São mais bem protegidos e também têm a responsabilidade de reembolsar seus clientes, o que as plataformas de criptomoeda não têm."

Segundo ela, são os usuários que têm maior probabilidade de serem hackeados ou fraudados nos sistemas bancários tradicionais, o que está acontecendo o tempo todo e custando milhões.

Ataques hackers em bancos tradicionais

Amber Ghaddar, que trabalhou para grandes bancos e agora é uma das fundadoras da plataforma de criptomoedas AllianceBlock, diz que os bancos tradicionais também tiveram sua cota de grandes ataques hackers.

Ela cita o ataque de US$ 81 milhões sofrido por um banco de Bangladesh em 2016 e o ​​incidente de 2017 com o Union Bank of India, em que os hackers roubaram US$ 171 milhões, posteriormente recuperados. Em ambos os casos, nenhum cliente foi lesado.

Ghaddar diz que os hackers de criptomoedas são um indício de um setor ainda novo que está crescendo muito rápido.

"Parte do problema é que esses sistemas são construídos com tecnologia de código aberto. O código aberto é ótimo porque usa a inteligência coletiva de uma comunidade para melhorar o software e os protocolos, mas um dos inconvenientes do código aberto é que algumas mentes brilhantes por aí podem encontrar alguma vulnerabilidade no código."

Ghaddar acredita que a única maneira de evitar que esses ataques aconteçam é introduzindo mais regulamentação e regras.

"Precisamos de auditorias e testes. Precisamos ter vários padrões que devem ser monitorados para proteger a integridade do mercado se realmente quisermos que a criptomoeda seja adotada em massa."

Cripto caos

Além dos ataques cibernéticos, os investidores comuns têm sido atingidos ao longo dos anos por outros tipos de cripto-catástrofe, como os chamados exit scams ("golpe de saída", em tradução literal) e rug pulls ("puxadas de tapete", também em tradução literal).

Os investigadores ainda estão tentando determinar quantos milhões, ou talvez até mesmo centenas de milhões, foram perdidos no misterioso fim da bolsa Africrypt, que quebrou no início deste ano, quando os fundadores desapareceram.

Os clientes da bolsa canadense QuadrigaCX também ainda estão lutando para serem reembolsados depois que seu fundador morreu, deixando US$ 135 milhões em moedas que não se sabe o paradeiro em 2019.

O sistema financeiro tradicional está, obviamente, repleto de vítimas de esquemas de pirâmide em grande escala e outras fraudes que provavelmente superam as perdas no mundo das criptomoedas.

Mas, apesar do rápido crescimento, o mercado de criptomoedas é muito menor no geral — e a história recente indica um problema de segurança em todo o setor.

Como o hacker que roubou US$ 600 milhões avisou em uma postagem recente: "Nós, os hackers, somos as forças armadas. Se você receber armas e proteger bilhões de pessoas enquanto estiver anônimo, você será um terrorista ou o Batman?"

Línea

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