Que efeitos o El Niño trouxe e o que esperar de La Niña nos próximos meses

Globo terrestre com diferentes cores ilustrando a temperatura dos oceanos

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Quando o El Niño está ativo, a água do oceano na zona equatorial fica mais quente
  • Author, Redação
  • Role, BBC News Mundo

O poderoso fenômeno climático El Niño contribuiu, aliado às mudanças climáticas, para aumentar as temperaturas globais, que bateram novos recordes nos últimos meses.

Agora o El Niño chegou ao fim, conforme anunciaram na terça-feira (16/4) cientistas do Serviço de Meteorologia da Austrália.

As águas do Oceano Pacífico esfriaram "substancialmente", segundo dados coletados na semana passada pela organização.

A Agência Nacional Atmosférica e Oceânica dos EUA (Noaa, na sigla em inglês) também previu há uma semana que o El Niño estava chegando ao fim — e que isso aconteceria entre os meses de abril e junho.

A previsão coincide com a da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que estima 80% de chance de condições neutras (sem El Niño nem La Niña) entre abril e junho.

O El Niño mais recente, que começou em junho do ano passado, levou águas mais quentes para a superfície do Oceano Pacífico, o que adicionou calor extra à atmosfera e provocou o aumento das temperaturas globais, que bateram recordes históricos um mês após o outro.

O que pode acontecer nos próximos meses ainda é incerto, dizem os pesquisadores.

As dúvidas que o El Niño deixa

Os recordes de temperatura batidos nos últimos meses a nível global levaram alguns cientistas a temer que o mundo possa estar entrando em uma fase nova — e ainda mais rápida — das mudanças climáticas.

Especialistas acreditam que os meses após o fim do El Niño vão oferecer uma indicação mais precisa sobre se as altas nas temperaturas registradas recentemente se devem ou não a esta aceleração do aquecimento global.

De tempos em tempos, a chegada do El Niño provoca grandes mudanças no clima em várias partes do mundo.

Gráfico mostra fase do El Niño

A propagação de águas mais quentes que sobem à superfície ao longo da costa do Peru está relacionada com o aumento das secas e inundações em diferentes partes do mundo.

O nome completo deste padrão é Sistema El Niño Oscilação Sul (ou ENSO, na sigla em inglês).

É marcado por três fases distintas: o El Niño quente, condições neutras e seu extremo oposto, um período mais frio chamado La Niña.

O fenômeno El Niño que termina agora começou em junho de 2023 — e atingiu o seu pico em dezembro.

A água mais quente do Oceano Pacífico ajudou as temperaturas médias do planeta a registrar novas máximas — e a bater, em março, o recorde mensal pelo décimo mês consecutivo.

La Niña

Mas agora — e talvez mais rápido do que se esperava — o El Niño está chegando ao fim.

A principal pergunta é o que acontece a seguir, e os cientistas estão divididos sobre como respondê-la.

Pesquisadores americanos afirmaram recentemente que havia 60% de chance de o fenômeno La Niña se desenvolver entre junho e agosto, e 85% de chance de que isso aconteça até o outono do hemisfério norte.

Gráfico mostra o que acontece no La Niña
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Especialistas do Serviço de Meteorologia da Austrália acreditam que tais previsões devem ser feitas com cautela, e esperam que as condições neutras durem pelo menos até julho.

“Como as atuais condições oceânicas globais nunca haviam sido observadas antes, as previsões baseadas em eventos passados ​​sobre como o ENSO poderia se desenvolver em 2024 podem não ser confiáveis”, afirmaram em comunicado.

Segundo os pesquisadores, a formação ou não do La Niña é algo de grande importância.

Este fenômeno pode ter um impacto significativo na formação de tempestades e furacões — e alguns especialistas preveem que sua chegada seria presságio de uma temporada de furacões bastante ativa no Atlântico.

O efeito de resfriamento do La Niña também poder desacelerar ligeiramente o ritmo do aquecimento global.

Isso poderia indicar que as temperaturas recorde registradas no ano passado não são evidência de que o mundo entrou em uma fase de aquecimento mais rápido.

Por que o El Niño e o La Niña se formam?

Os cientistas não têm certeza do que exatamente inicia o processo. Mas, de tempos em tempos, as condições de pressão atmosférica mudam sobre o Pacífico equatorial, afetando os ventos alísios do sudeste — das regiões intertropicais — que normalmente sopram de leste para oeste.

Alguns consideram que a rotação da Terra pode afetar o movimento destes ventos, que atuam sobre a superfície das águas oceânicas.

Embora se saiba que o vento é o gatilho, existem diferentes teorias sobre o motivo pelo qual esse vento se altera — entre elas, a que argumenta que variações na atividade solar provocam aquecimentos diferentes no planeta e, por sua vez, diferentes pressões.

Seja como for, durante o El Niño os ventos alísios enfraquecem, de modo que menos água se desloca para oeste — por isso, a parte central e oriental do Pacífico esquenta mais do que o normal.

Gráfico mostra condições da temperatura no El Niño

Crédito, BBC

Às vezes, acontece depois um resfriamento muito brusco, e o fenômeno se transforma em La Niña — embora, segundo especialistas, também possa haver La Niñas quando não há El Niño.

Durante o La Niña, os ventos ficam mais fortes, de modo que a massa de água aquecida pelo Sol é empurrada para oeste.

Enquanto isso, no Pacífico oriental, a água fria e profunda sobe para substituir a água quente.

Gráfico mostra condições da temperatura no La Niña

O El Niño não tem um período fixo: costuma durar entre 9 e 12 meses, e sua intensidade também pode variar.

O desenvolvimento deste fenômeno costuma ser monitorado por centros meteorológicos internacionais que utilizam modelos climáticos e observações de satélite para prever seu aparecimento e potenciais impactos.

Da mesma forma, o La Niña não segue um calendário fixo, e sua frequência e intensidade podem variar.

Os fenômenos La Niña podem durar de 9 meses a três anos, e sua previsão também depende de observações climáticas e modelos meteorológicos avançados.

Os cientistas continuam estudando ambos os fenômenos para melhorar as previsões — e entender melhor seu impacto nas mudanças climáticas globais.